Espero que o debate na generalidade e na especialidade da proposta de Orçamento do Estado coloque a questão do financiamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) na primeira linha. Temos ouvido falar de pensões, de sobretaxa, do IVA da restauração, do património, da fat tax, dos refrigerantes, e sei lá mais do quê. Mas e essa comezinha questão que dá pela sigla de SNS? As pessoas continuam a não querer perceber: os próximos anos serão cada vez mais exigentes quanto à necessidade de cuidados de saúde por parte da população, especialmente da mais idosa que, como se sabe, será cada vez mais numerosa. Principalmente ao nível dos cuidados continuados, as solicitações serão cada vez mais e cada vez maiores. Tenho dito e redito e não me canso de o dizer: serão precisas cada vez mais unidades de saúde para o efeito, cada vez mais pessoal, cada vez mais equipamentos, nomeadamente na região de Lisboa, que apresenta os rácios mais baixos de todo o país.
É bom que as pessoas percebam que há cada vez mais idosos que estão em lares, que se encontram em situação de grande dependência e que, por isso mesmo, deviam estar em unidades de cuidados continuados e, a partir de certo momento, paliativos. Esta articulação entre opção hospitalar, opção lar ou opção cuidados continuados irá passar por alterações significativas e é bom que tenhamos consciência de que é elevado o custo por pessoa neste tipo de prestação de cuidados de saúde.
Não estou a dizer nem penso – porque não tenho ilusões – que se possa colocar em cima da mesa a opção de que seja o Estado a suportar todo esse esforço. Mas existindo o respeito que existe pela natureza pública do SNS, é bom que todos aprofundemos o tema para podermos resolver o impasse: por um lado, o SNS tem obrigação de disponibilizar os vários tipos de cuidados a toda a população mas, por outro lado, não há dinheiro para isso. Há que olhar de frente a realidade e saber como todos e cada um devem assumir as suas responsabilidades: Estado, misericórdias, instituições de solidariedade, organizações privadas, pessoas, famílias… Todos têm de ser chamados a esta reflexão séria que conduza a decisões sérias sobre como cada um pode ter garantido o acesso aos vários tipos de cuidados de saúde.
Podemos continuar a tapar o sol com a peneira, a iludir a realidade, podemos não querer olhar para os números, mas mais tarde ou mais cedo eles vão impor-se. Esta é mais uma área que sustenta o que defendo em artigo também de hoje no Jornal de Negócios: este próximo Orçamento deve ser um Orçamento para o crescimento e assim deve ser chamado e apresentado. Sem crescimento económico não há justiça para distribuir porque no meio do aperto é difícil haver equidade, só pode haver justiça distribuída às ‘migalhas’.
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Imperdível: Cultura - Arte urbana e marionetasRespira-se arte urbana na Amadora com o projeto ‘Conversas na Rua’, no qual se podem ver em vários locais daquela cidade murais, como o de Amália Rodrigues, numa fachada de um prédio de seis metros, de Zeca Afonso ou de Carlos Paredes, em frente à estação de metro Amadora-Este. Entretanto, já está a decorrer o Festival Internacional de Marionetas do Porto, um evento que combina o teatro, a música e a performance através das marionetas, dos objetos, da arte da manipulação e matéria animada, vivo e não-vivo. Além do Teatro Municipal do Porto, que coproduz uma parte importante do programa, e dos espaços do Teatro Nacional São João, o festival estará também presente na sala de ensaios do Teatro de Ferro, nos bairros, escolas e associações da cidade.
Canto curto: I Liga - Mudança de treinadorO Belenenses e o Boavista mudaram de treinadores sem que o motivo fosse exatamente os resultados ou a classificação das duas equipas. Julio Velázquez divergiu da direção em relação a um jogador que tinha dispensado e Erwin Sanchez criticou os sócios. Não está fácil para quem treina. Agora, para além da performance desportiva, também conta a opinião. Mas há que compreender: manda quem pode.