Há um país de Lisboa e Porto; há um país das cidades no litoral; há um país das cidades do interior. E há um outro, a esmagadora maioria do território, o país rural, das aldeias.
Acontece que esse país também está dentro de Portugal, e tem sido absolutamente abandonado pelas políticas públicas. O chocante incêndio do fim de semana não se esgota neste modelo a várias velocidades, mas esse é o macro-cenário que possibilita termos larguíssimas parcelas do território à mercê da cada vez maior inclemência climatérica.
É preciso mudar muita coisa nas florestas, na prevenção e na forma de reação aos incêndios. Mas é preciso, sobretudo, não aceitarmos como uma fatalidade que uma conjugação de fatores climatéricos mate mais de 60 dos nossos concidadãos.
Porque aceitar esta resignação esotérica significa apenas uma coisa: estamos a dizer aos portugueses que não lhes podemos valer, quando a natureza decidir atacar. Mas nada mudará se não conseguirmos travar esta vertigem bacoca de retirar ao mundo rural todas as infraestruturas básicas (centros de saúde, escolas), como se o país se esgotasse numa língua litoral atafulhada de gente.