A morte de um amigo é sempre prematura. Leva-nos um pouco da nossa alegria. E, no caso do Manel, do Manuel Sampaio Pimentel, nem sequer posso falar de provação por, em tão pouco tempo, ter perdido mais um companheiro, um colaborador direto, um parceiro. Não o posso invocar, porque muito maior é a provação para a família, para a Mãe que o vê partir um ano depois de perder o marido, ou para os três filhos, tão pequenos, que o Manel adorava e que vão crescer sem a sua presença física, sem o seu carinho.
Era isso, e a necessidade de se reconciliar com todos, que preocupava o Manel nestes últimos meses em que – com a coragem que só está ao alcance de quem, com inquebrantável fé, encarou a morte de frente – sentiu esvaírem-se as suas capacidades.
É sempre fácil, porque inevitável, fazer o elogio fúnebre de quem partiu, mas há quem tenha o dom de dizer o que não é evidente. No Facebook, Helena Ferreira da Silva despediu-se do amigo com palavras maravilhosas. Recorda o Manel "rindo muito, idealizando muito. Dando sempre e nunca pedindo nada em troca. Um cristão bom, como ambicionava ser ... parece simples, mas é cada vez mais raro". Era assim o Manuel, o conservador tolerante que gostava de poesia e de música, que apreciava a beleza.
Sim, tivemos as nossas discordâncias - negá-lo, como tantos outros se apressaram a fazer, seria um ato de hipocrisia -, mas nunca confundi as coisas. Nunca esqueci a sua vinda a minha casa, há quatro anos, para me declarar que, caso me candidatasse à presidência da Câmara, me apoiaria incondicional e publicamente, qualquer que fosse a posição do seu partido, antecipando em largos meses o apoio do CDS.
E, depois, quando Paulo Portas decidiu apoiar-me, e perguntei ao Manel se tinha havido mão dele, sorriu e disse que não, porque já tinha declarado que, em qualquer caso, estaria comigo. Pedi-lhe, depois, que aceitasse participar nas listas e foi, natural e obviamente, o meu escolhido para número dois na vereação, tendo andado ao meu lado na campanha, muitas vezes com os seus filhos.
Para quem tem a felicidade de ter Fé, com era o caso dele e é o meu, a sua partida não foi um adeus definitivo. Para nós é mais fácil, até para perceber a dignidade extrema da sua família no momento da dor. A mim só me resta dizer, com uma saudade que não posso mitigar: até já, Manel.
751 – a exposição
Um ano após a sua morte, a Câmara do Porto volta a homenagear Paulo Cunha e Silva com uma exposição que decorrerá nos Paços do Concelho, intitulada ‘751’, número de dias em que permaneceu como vereador da Cultura. A inauguração está marcada para sexta-feira, às 21h30. Entre outros marcos da sua genialidade, exibimos a reprodução do seu gabinete, ao qual a cidade atribuiu uma carga simbólica cultural. Desde a cadeira do Rivoli, que estacionou à sua frente para que nunca se esquecesse de um dos maiores desafios que enfrentou e ganhou, até ao espelho em que obrigava todos os que ali entravam a ver-se antes de consigo falarem. Estará lá tudo. Os últimos atos de Paulo Cunha e Silva como vereador municipal também estarão, em forma de fotografia, e a sua alma também andará, certamente, por lá.
Outra vez a TAP
O ‘Público’ fez esta semana um excelente retrato sobre o que é hoje a TAP, à qual atribuiu um papel regional, acantonada no ‘hub’ de Lisboa. Os números que revelou, e que a atiram para o 3º lugar em passageiros transportados a partir do Aeroporto Sá Carneiro, são a demonstração do que, durante alguns meses, avisei que iria acontecer, e são a prova de que a concentração de voos internacionais em Lisboa é um tremendo erro estratégico que, fazendo mal ao Porto, faz pior ao País e à TAP. No Facebook, muitos vieram pedir que voltasse a intervir sobre o assunto. Como sempre, prefiro falar antes do que após o leite derramado. É mais um caso em que cabe ao país avaliar se eram ou não provincianas as minhas preocupações.