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Rui Moreira

O deserto floresceu

Precisamos dos recursos da Taxa turística. Mas precisamos também de olhar o futuro de frente, sem saudosismos.

Rui Moreira 30 de Abril de 2017 às 00:30
Quando, no início do século, fui eleito para presidir à Associação Comercial do Porto, passei a frequentar diariamente o Centro Histórico. Nessa altura, pese embora a sua classificação patrimonial, o centro estava arruinado e vazio. O comércio tradicional fechara as suas portas, o fim do Anikibobó levara a noite para a Zona Industrial, os poucos turistas chegavam apressados de Pulman para visitar o barroco da Igreja de São Francisco. Não ficavam. Os poucos moradores que tinham resistido ao êxodo que atirou a sua maioria para bairros sociais em zonas menos centrais ou para o mercado imobiliário de concelhos vizinhos, eram os mais fracos, acamados ou presos pela baixa renda que lhes cobravam na Baixa por casas sem condições e a ameaçar ruína, fruto da ausência de mercado e do congelamento das rendas.

Hoje, o panorama mudou. Muito mais depressa do que se admitia. A mudança teve causas e rostos. O deserto floresceu, sim. E é preciso dizer "ainda bem!" antes de dizer que agora o problema é outro. Fala-se, com razão, mas truncando a relação de causa a efeito, no risco de gentrificação. Ou seja, do risco associado ao sucesso que transformou o centro deserto num lugar de eleição, o que se repercute no mercado, como não podia deixar de ser com as rendas liberalizadas de hoje e transações que não estão à medida de muitos portuenses. E estes, é claro, querem partilhar o melhor que a cidade renascida lhes oferece.

É diante desta mudança que devemos agir. Sem diabolizar o que é novo, sem anacronismos, sem complexos, a cidade tem os recursos para manter o seu caráter.

Como escreveu Agustina, "a cidade tem toda ela uma forma, uma alma se muralha... apesar dos seus intrincados mundos de classes". E, por esses mundos intrincados, é preciso garantir o interclassismo do Centro Histórico, corrigindo as falhas de mercado, garantindo que há casas para os portuenses, mais velhos e mais novos, mais pobres ou remediados. E para isso, acredito, que precisamos dos recursos da taxa turística. Mas precisamos, também, de olhar o futuro de frente, sem saudosismos. Sobretudo, sem saudosismos em relação a uma realidade que sempre, todos, criticamos e lamentamos. 

Concerto no Coliseu 
Sábado, o Coliseu Porto realiza o seu concerto clássico, comemorativo dos 75 anos da mítica sala portuense. Em palco estará a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, mostrando uma sã e até invulgar convivência das instituições culturais e de espetáculos da cidade. O repertório, alegre e bem-disposto, está bem escolhido para um momento que sendo clássico se quer de festa.

E tudo isto acontece numa altura em que a Associação Amigos do Coliseu apresentou, pela primeira vez, contas livres de endividamento bancário e que caminham no sentido certo. Falta muito para consolidar o projeto do Coliseu Porto e dar-lhe, além da sustentabilidade, um futuro e um restauro já necessário. Mas se há algo que os portuenses podem fazer pelo Coliseu é usá-lo, consumindo, como é o caso, o melhor da música.

Páginas políticas e perfis anónimos
Fez bem o legislador ao clarificar aspetos da Lei Eleitoral, acabando com a imponderabilidade das candidaturas independentes e permitindo símbolos nos boletins de voto para estas. E esteve bem ao clarificar a cobertura mediática e dar mais liberdade editorial aos órgãos de comunicação. É também bom que esteja hoje enquadrada na Lei a utilização das redes sociais em campanhas eleitorais.

Tudo isto deverá ser melhorado e atualizado antes de futuros atos eleitorais, mas é bom o trabalho que a CNE também já fez para informar. É mau que os gestores internacionais destas plataformas sociais continuem a deixar que existam páginas difamatórios e anónimas que acabam por passar entre os pingos da chuva legal.

PROTAGONISTAS
O teólogo
Padre Carreira das neves
Antes, muito antes do Papa Francisco, havia um padre que dizia coisas que agora parecem comuns e normais. Era um teólogo na verdadeira acessão da palavra, que recusou honras e elogios.

Um perigo público
Cães à solta
O que sucede com incrível frequência demonstra que por muito que custe a alguns, há um gravíssimo problema de segurança com os cães. E não se pode adiar esta questão por mais tempo.

Extremos tocam-se 
Sem surpresas
Não é só em França que há uma grande proximidade entre o nacionalismo extremo e a esquerda mais radical. Têm preocupações comuns, dizem. Já não o dizem, mas odeiam a liberdade.

Serão as apostas?
Escândalos no futebol

Semana após semana, sucedem-se os escândalos no futebol. Principalmente nos escalões secundários, menos escrutinados. Depois, olhamos para as apostas e perguntamos se é por isso.
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