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Piloto morre em corrida de motos no Estoril

Sérgio Pereira Cardoso

Limpinho, limpinho!

Carlos, chamemos-lhe assim, estava a tomar um retemperador duche de água quente, indispensável para combater uma fria madrugada de outubro.

Sérgio Pereira Cardoso 23 de Outubro de 2016 às 00:30

De repente, pela casa de banho do apartamento irrompe um homem, numa cena hitchcockiana. Só que, aqui, o invasor não atacou à facada. Pelo contrário, saiu e trancou a porta por fora. Carlos manteve-se impávido e sereno, finalizando o seu banho com toda a calma.

Tudo isto aconteceu, factualmente, na cidade de Tomar, corria o ano de 2006. Mas, caro leitor, a exemplo de frases como ‘Traz-me aqui essas bolas’, importa, e de que maneira, explicar o contexto em que toda a situação se desenrola.

Recuemos uns 20 minutos. Carlos, de 25 anos, um jovem servente de pedreiro já com comportamentos nada recomendáveis no currículo, decidiu arrombar a porta de um apartamento, provavelmente para roubar. Não há certezas, porém, será pouco crível que quisesse apenas dar a conhecer aos moradores a palavra do Senhor.

Perante o silêncio na habitação, Carlos julgou estar sozinho e, consequentemente, à vontade. Ora, então, siga lá tomar uma banhoca, que isto de ser servente de dia e criminoso à noite é uma canseira e há que manter a higiene.

O rapaz não sabia, mas tinha companhia. Uma senhora já com alguma idade, que acordou com o barulho feito no arrombamento. Como pensou tratar-se de um neto que também costumava ficar lá por casa, e ao aperceber-se depois da água a correr, voltou a dormir. Carlos, esse, lá se esfregava com o melhor gel de banho.

A sorte estava a acabar. O proprietário do apartamento, de 63 anos e que trabalhava à noite, chegou do seu emprego. Ao ver a porta arrombada, começou a temer o pior. Ouviu o chuveiro e dirigiu-se à casa de banho. Viu Carlos totalmente nu e, naturalmente horrorizado, fechou logo a porta à chave, chamando a PSP, enquanto verificava que a sua mulher estava ilesa. E a verdade é que Carlos se manteve mesmo sereno. Certamente conhecedor do Código Penal, sabia que ainda nada tinha roubado e que apenas incorria no crime de violação de domicílio ou algo similar. Secou-se e vestiu-se, a tempo da chegada da polícia. Não justificou o ato, mostrando-se desorientado. Pediu desculpa e comprometeu-se a pagar os estragos, quiçá até a conta da água. Os beneméritos lesados deixaram cair a queixa e lá foi o homem à sua vida. Limpinho, limpinho.

Ladrões do pior Sérgio Pereira Cardoso
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