Ser positivo e saber aproveitar as oportunidades, recomendam-nos os melhores livros de automotivação, ou até mesmo aqueles de Gustavo Santos.
Dale Carnegie, histórico autor norte-americano, escreveu um dia que o homem que vai mais longe é sempre aquele que tem a coragem de arriscar. "Tente a sua sorte". Exceto se for ladrão. Nesse caso, modere o ânimo.
Funchal, janeiro deste ano. Numa tarde, dois roubos com ameaça de arma branca. O primeiro a um homem de 52 anos, que teve de levantar 250 euros. Mais tarde, na rua da Ponta da Cruz, foi a vez de um turista, de cerca de 70 anos, ver o jovem apontar-lhe a faca, exigindo-lhe a carteira com dinheiro.
Aqui, a situação começou a piorar para o nosso protagonista. É que uns populares que se encontravam ali perto aperceberam-se do que se passava e apertaram o gatuno. Sem mais a fazer, desistiu e fugiu a correr estrada fora, por entroncamentos sem fim. "Faça queixa, bom senhor", disseram os madeirenses à vítima, que, ilesa, longe do seu país e com o dinheirinho intacto, não estava muito para se chatear. Ainda assim, perante a insistência alheia, lá foi à PSP.
Pelo retrato realizado, os agentes não tiveram grandes dúvidas e chegaram ao suspeito, um velho conhecido, natural de Câmara de Lobos e com fortíssima carreira no mundo do ilícito. Foram buscá-lo e apresentaram-no ao turista.
O cadastrado olhava para o chão, tentando não ser identificado e fazendo uso mental das suas melhores orações. "Não foi este", disse o cidadão estrangeiro, em inglês, numa frase que levantou todos os pelos do corpo do ladrão, profissional poliglota, capaz de assaltar em qualquer idioma. Era a primeira vez que ouvia alguém a utilizar a forma negativa referindo- -se a ele e a um crime. "Tem a certeza?", perguntaram-lhe os polícias. "Positive", assegurou a vítima. O suspeito não conseguiu segurar o sorriso. Estava safo. ‘Addio, Adieu, Auf Wiedersehen, Goodbye’.
Com um andar confiante, saiu da esquadra. Rumo a uma vida melhor? Não, rumo a uma loja de roupa do Fórum Madeira. Sem perder tempo e certamente seguidor de Carnegie, aproveitou a nova oportunidade para surripiar um par de sapatilhas. "Tente a sua sorte".
Mas a sorte expirou-se-lhe. A PSP deitou-lhe novamente a mão, nem uma hora passara. O rapaz voltou a puxar das preces a São Larápio. Desta vez, sem sucesso. "Está detido". Não se arrepiou. Estas, sim, eram palavras que já tinha ouvido antes. Uma boa dezena de vezes.lD