Temos um problema, isto é um assalto." José Moreno, de 37 anos, estreara- -se há poucos meses como taxista. Era, aliás, ainda um part--time para este homem do Barreiro que tentava fazer pela vida. Numa noite de domingo, foi chamado por dois jovens, junto ao terminal rodoviário da cidade. Um deles acabaria por roubá-lo. Felizmente para o motorista e para o mundo em geral, tratava-se de uma espécie de ladrão muito específica e geralmente mais fácil de apanhar que um pokémon: o gabarolas. Mas já lá vamos.
Estávamos em novembro de 2006. Um dos clientes transportados pelo senhor Moreno ficou numa rua logo ali perto. O outro, de nacionalidade brasileira, pediu para ser levado ao Vale da Amoreira, logo a seguir arrependendo-se e escolhendo como destino uma discoteca na Moita. "Espere aí, afinal não." Afinal, explicou, queria ir para outro bar, em Alhos Vedros. Até aqui, tudo bem. A adolescência é mesmo assim, plena de indecisões e borbulhas na cara.
Pelo caminho, ou caminhos, neste caso, o jovem foi fazendo perguntas ao condutor. Quis saber quanto é que um taxista recebia de ordenado e quanto é que um táxi fazia por dia, esse tipo de coisas que apenas interessam a quem também quer ser taxista ou a quem se prepara para puxar de um facalhão de vários centímetros de lâmina para o encostar à barriga de alguém que se vai roubar. "Temos um problema, isto é um assalto", esclareceu o ladrão, sacando da comprida arma branca e apoderando-se de algum dinheiro. José Moreno ativou o sistema ‘Táxi Seguro’ – que avisa a PSP – e arrancou até à discoteca Cleópatra, logo ali nas proximidades, pedindo ajuda. Quando a polícia chegou, já o menor tinha escapado a pé. Reportada toda a situação, estava aberta a investigação a novo crime de roubo. Procurava-se assaltante.
A sorte é que a adolescência é igualmente pródiga na síndrome do ‘faço e aconteço’. No dia seguinte, o telefone tocou na esquadra da PSP do Barreiro. Uma chamada anónima. "Está aqui um rapaz a gabar-se de que assaltou ontem um taxista." Uma patrulha deslocou-se ao local e avistou o belíssimo exemplar de ladrão gabarolas, logo enjaulado, sem necessidade de pokébolas.
Embora com 16 anos, contava já com várias referências no currículo. Encontrava-se fugido de um centro educativo de Coimbra, onde fora internado depois de assaltar e esfaquear um idoso. Apesar deste registo exemplar, tinha apenas um defeito: era falador. E, como se canta ao melhor ritmo do samba no Brasil, falador passa mal, rapaz.
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