A propósito de uma manifestação à porta da RTP.
Quando andava na instrução primária, aí pelos anos 30 do século passado, isso constituía o início do que então se tinha por formação escolar. A educação recebia-se em casa, complementada por formação religiosa (quando a família seguia algum credo), e assistida pela leitura, que era então o único veículo de comunicação, além do gramofone.
O resto aprendia-se na rua, no meio onde vivíamos e onde convivíamos com amigos e colegas, sem esquecer a cultura do local e os outros seres vivos que connosco coabitavam.
Depois chegou a confusão. O próprio ministério que regia o ensino passou a titular-se ‘da educação’, enquanto as famílias foram perdendo identidade e a inevitável entrada das mães no mercado de trabalho ajudou à transferência da função educadora para a escola, até porque o dia só tem vinte e quatro horas e o trabalho doméstico não se viu aliviado. Foi assim e ponto final!
Vem tudo isto a propósito daquela manifestação que os anti-taurinos (os do PAN e os urbano-depressivos) fizeram frente à RTP a propósito das transmissões televisivas das touradas. E aí o que mais me impressionou foi um cartaz empunhado por uma criança onde se lia: "Gente educada não vai à Tourada". Primeiro porque fiquei sem poder classificar o que, para o autor do cartaz, seria educação, uma vez que a tourada em si mesma não colide com os preceitos que a vida em sociedade impõe nessa matéria e o espetáculo taurino não pressupõe falta de civismo, ao contrário do que acontece com muitos outros.
Segundo porque se o cartaz se referia a gente ‘instruída’ a ignorância de quem o imaginara negava todo e qualquer direito à manifestação e aos seus pressupostos. O filósofo Ortega y Gasset já explicou tudo isso em letra de forma. Goya, Picasso e Júlio Pomar (como tantos outros artistas plásticos) já lhe deram cor em obras imortais.
Llorca, Alberti, Antonio Machado e muitos outros poetas já lhe dedicaram odes de rara espiritualidade e beleza, e não foram poucos os premiados com o Nobel da Literatura, de García Marquez a Hemingway, de Camilo José Cela a Vargas Llosa (e que me perdoam os que terei esquecido), que dedicaram à Festa páginas de inequívoca fidelidade e reconhecido brilho.
Haverá duvidas de que gente educada (e instruída) vai à tourada?