Os partidos do regime agora querem ouvir o povo. Eis o raciocínio: se Portugal der o salto para uma união política e económica irreversível, o zé-povinho terá direito a ir às urnas.
Superficialmente, a esmola é meritória: durante três décadas, a Europa foi uma construção burocrática e distante, que os parlamentos se limitavam a carimbar. Mas convém comedir o entusiasmo até sabermos o que significa essa ‘união política e económica’. Será obedecer sem piar às ordens de terceiros? Ou será participar colectivamente (e democraticamente) nos destinos da Europa?
Duas perguntas, duas consequências distintas. Porque existe uma diferença entre alienar soberania em troca de maior participação europeia; ou alienar soberania porque estamos na penúria. O povo, em desespero de causa, até pode votar efusivamente na segunda hipótese. Mas um referendo que pergunta, na prática, se os portugueses querem deixar de viver em democracia, será sempre um referendo ilegítimo.