Costuma dizer-se que a inflação é um imposto escondido que todos pagamos. Mas na proposta do Orçamento do Estado para o próximo ano, a inflação está à vista e pode comer os eventuais ganhos prometidos com as mudanças no IRS.
No mínimo trata-se de um imposto escondido com rabo de fora, porque ao decidir não atualizar os escalões do IRS de acordo com a inflação, o Governo penaliza quem tiver aumentos de rendimentos no próximo ano, período de crescimento económico e de pressões salariais decorrentes do dinamismo do PIB, da falta de mão de obra em muitos setores e do agravamento do custo de vida que já é notório nos preços dos combustíveis, no custo da eletricidade, do gás e de tantos outros produtos. E há risco da subida de preços ser superior aos 0,9% previstos, porque os constrangimentos que se estão a assistir no abastecimento de bens a nível global podem agravar mais os custos.
Assim, só tem poupança garantida no IRS quem não tiver aumento de rendimento. Há nove anos em plena época da troika, Vítor Gaspar, então ministro das Finanças, anunciou um colossal aumento de impostos. Desde esse Orçamento tem havido algumas operações de cosmética, como esta mexida nos escalões, que dão a ilusão de algum alívio, mas o paradigma ficou e os portugueses pagam uma barbaridade de IRS tendo em conta o seu nível de rendimento.