O episódio ocorrido com três juízes do Porto que se recusaram a participar em buscas a alvos do universo do futebol é de uma gravidade inusitada.
Levanta a questão essencial da independência e da forma como ela é historicamente maltratada em Portugal. Os juízes não podem andar uma vida inteira fora dos tribunais, em comissões de serviço por nomeação política.
Não podem estar nos órgãos do futebol e dos clubes. Não podem frequentar os camarotes presidenciais dos estádios. Não podem pedinchar bilhetes aos dirigentes nem acamaradar com estes em almoçaradas celebrativas, seja qual for o pretexto. Não podem aceitar presentes nem viajar nas comitivas dos clubes quando vão ao estrangeiro. Isto deveria ser óbvio, há uns bons 40 anos, para os magistrados e para os conselhos superiores. Pelos vistos, não é. E também não é o dever de transparência na rápida análise e punição disciplinar, se for o caso, destas situações.
O que aconteceu, afinal, à exposição feita pelo juiz Carlos Alexandre para o Conselho Superior da Magistratura? Saber isso, é essencial para que não fiquemos a pensar que são todos como o juiz Rangel.