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Correio da Manhã

Política
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Jorge Sampaio, o Presidente que não tinha medo de chorar

Antigo Presidente da República e representante da ONU morreu aos 81 anos.
Adriana Alves e Iúri Martins(iurimartins@cmjornal.pt) 10 de Setembro de 2021 às 09:07
Jorge Sampaio
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Numa das últimas homenagens públicas, na sede nacional do PS, na presença de relevantes figuras socialistas, Jorge Sampaio deu um toque de humor britânico para lembrar que não costumava estar numa cerimónia daquelas "sem chorar um pouco". "Não chorei até agora e agora já é tarde", disse Sampaio, com uma ressalva: "Só não é tarde para continuar a lutar", disse o homem que lutou pelas suas ideias durante toda a sua vida.

Jorge Fernando Branco de Sampaio nasceu em Lisboa a 18 de setembro de 1939 e morreu aos 81 anos na capital portuguesa, a uns dias de completar mais um aniversário.  

A vida do pai levou o jovem Jorge até aos Estados Unidos e Inglaterra, países onde viveu. Com uma vida dedicada à política e à causa pública, chegou a Presidente da República durante dois mandatos, entre 1996 e 2006.

Em 1995 Sampaio apresentava a sua primeira candidatura a Belém. Recebeu o apoio de inúmeras personalidades da vida política, cultural, económica e social e, naturalmente, do Partido Socialista. Ganhou as eleições a 14 de Janeiro de 1996, tendo sido eleito à primeira volta. Voltou a ser eleito à primeira volta em 2001, para um novo mandato.

Enquanto chefe de Estado, Jorge Sampaio é lembrado por ter usado a metafórica ‘bomba atómica’ presidencial, o momento em que dissolveu a Assembleia da República. 

Esta, que é a maior ‘arma’ do arsenal de um presidente e foi usada apenas uma vez, no final de 2004. Jorge Sampaio assinou o decreto de dissolução do Parlamento que sustentava o Governo de Santana Lopes. Convocou eleições antecipadas, que vieram dar a vitória a José Sócrates. Foi a primeira e única vez em que um presidente português utilizou a chamada ‘bomba atómica’.

"Fartei-me do Santana [Lopes] como primeiro-ministro, estava a deixar o país à deriva, mas não foi uma decisão ad hominem", disse o ex-chefe de Estado no segundo volume da sua biografia, da autoria do jornalista José Pedro Castanheira. "Ninguém gosta de dissolver o parlamento e eu tomei essa decisão em pouco mais de 48 horas. Hoje faria o mesmo, porque era preciso", acrescentou. 

A decisão surgiu durante a crise política no verão de 2004, quando Durão Barroso abandonou a chefia do Governo. Pedro Santana Lopes avançou e posicionou-se na linha de sucessão, contrariando a posição do PS e dos partidos da esquerda, que pretendiam eleições antecipadas.

Apesar de ter permitido a Santana Lopes poucos meses em São Bento, o ex-chefe de Estado garante, na sua biografia, que a dissolução "não foi vingança". "De vez em quando é preciso dar voz ao povo - e percebi qual era o sentimento do povo", defendeu.

Não foi na política que Jorge Sampaio iniciou a sua carreira. Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa começou a trabalhar como advogado. Forte opositor à ditadura, nos anos da faculdade foi um dos protagonistas da crise académica do princípio dos anos 60. Em 1969 candidata-se às eleições para a Assembleia Nacional, integrando as listas da CDE. Participou nos movimentos de resistência e na afirmação de uma alternativa democrática de matriz socialista, aberta aos novos horizontes do pensamento político europeu.

Jorge Sampaio manteve, ao longo dos anos, uma constante intervenção político-cultural, escrevendo assiduamente para jornais e revistas. 

Foi também um dos rostos do combate à tuberculose. Após a passagem pela Presidência da República, foi nomeado em 2006 enviado especial para a Luta contra a Tuberculose. A sua missão foi mobilizar a comunidade internacional e manter o tema como prioridade na agenda política.

Em abril de 2007 foi nomeado Alto representante da Organização das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, iniciativa que visa combater o extremismo através da cooperação e do diálogo entres os povos. 

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