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Portugal

"Não conheço ninguém da Odebrecht!": Seixas da Costa reage a pedido do MP à Justiça brasileira

Pedido referente a pesquisa no sistema informático da construtora para gerir os alegados pagamentos de luvas ao 'Príncipe'.
Correio da Manhã 12 de Dezembro de 2020 às 01:30
Francisco Seixas da Costa
Francisco Seixas da Costa FOTO: Rafael G. Antunes

A propósito do pedido do Ministério Público feito à justiça brasileira, para que sejam feitas pesquisas nos sistemas da construtora Odebrecht por nomes de várias figuras políticas, empresariais e diplomáticas portuguesas - no âmbito da investigação ao pagamento de luvas ao 'Principe' (nome de código de cidadão português), Francisco Seixas da Costa, um dos alegados nomes sobre o qual terá incidido o pedido de pesquisa, fez publicação na sua página de Facebook.

 

Leia o texto na íntegra:

"O telefonema de um jornalista, esta tarde, foi correto e profissional. A questão era "simples": o que é que eu tinha a dizer perante o facto, que havia chegado ao seu conhecimento, de que, num processo que envolve a empresa brasileira Odebrecht, o meu nome terá surgido, ao que parece entre outros, como suspeito, nem percebi precisamente de quê, numas inquirições feitas entre as autoridades judiciais portuguesas e brasileiras.

"A Odebrecht?", reagi. Por curiosidade, a Odebrecht é talvez das grandes empresas brasileiras a única com a qual, ao tempo em que fui embaixador naquele país, nunca tive o menor contacto. Não conheço ninguém da Odebrecht! Nunca, pelas minhas mãos, passou algum assunto que tivesse a ver com essa empresa. E sou acusado exatamente de quê? Alguém da Justiça me chamou, alguma vez, para me perguntar fosse do que fosse? Envolve-se o nome de um cidadão num "processo" e deixa-se que, com uns títulos, se crie a ideia do "não há fumo sem fogo". Para gozo da rapaziada das caixas de comentários? E, depois, haverá alguém, responsável e disponível, no dia em que este tipo de insinuações cair no ridículo, em que obviamente cairão, para vir apresentar um pedido de desculpas? E irá isso ainda a tempo de desfazer os preconceitos entretanto criados ou o objetivo, afinal, era esse mesmo?: tentar enlamear o nome da pessoa, antes mesmo que ela tivesse possibilidade de fazer um mínimo de contraditório.

É que isto tem precedentes. Há tempos, correu por aí, tentando envolver-me, um alarido sobre a barragem de Foz-Tua. Uma questão muito fácil de explicar, mas só se alguém quiser ouvir. Tive então direito a fotografias na imprensa, peças nas televisões, à esperada especulação pelos caluniadores profissionais. Fiquei, naturalmente, à espera de que alguém me chamasse. É que a questão é simples: há uma investigação ou não há? Se há, o meu nome está envolvido ou não? E, se sim, em quê? Ninguém me diz nada? É tudo em segredo? A senhora Procuradora-Geral da República nada tem a dizer, publicamente, sobre esta forma de atuar dos seus serviços? Já vale tudo?

Por mim, com a total serenidade de quem nada tem a temer, apenas gostava que quem tem a mínima das dúvidas - qualquer, por menor que seja! - me chamasse a esclarecê-la. Querem o meu endereço? "Não digas nada! Só vais agravar as coisas!" dizem-me as vozes amigas e da prudência. Mas vou agravar o quê? O que é que posso agravar, se não me foi colocada a menor questão, se não sei sequer do que estão a falar? Tenho de reler Franz Kafka."

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