O motivo para o desaparecimento prendeu-se com o facto de o jovem ter chegado a um ponto de desespero por estar desempregado há três anos. "Tinha tido uma promessa de trabalho de um hipermercado, onde me garantiram entrada directa. Quando fui lá dia 6 entrevistaram-me, ficaram de me dar resposta no dia seguinte mas não deram", explicou ontem ao CM João Tomás. Horas depois da recusa do emprego, decidiu sair de casa de madrugada. Não levou carteira, telemóvel, chaves nem os óculos. "Só preciso deles para ver ao longe", disse o jovem, que decidiu partir durante cinco dias.
O dirigente político percorreu cerca de 60 quilómetros durante cinco dias, desde a marginal de Valbom, onde reside com o pai de 79 anos, até ao Cais da Ribeira de Pardelhas, em Murtosa. "Saí de casa às 04h30, não levei nada e fui mesmo sem destino. Segui a linha do mar só que cheguei ao limite das minhas faculdades mentais e físicas. Parei num café e pedi ajuda."
Caminhava de tarde, à noite vagueava pelas zonas mais urbanizadas e de manhã dormia na praia. Não levava dinheiro, pelo que sobreviveu bebendo água de sítios públicos e comendo maçãs de terrenos abandonados. "Não roubei, não cometi nenhum tipo de crime. Precisava deste tempo de alguma solidão para pensar na vida", lembrou João Tomás. Por ele passaram muitos populares que o reconheceram e censuraram. "Tenho noção de que o meu acto não foi do mais feliz, até roçou o execrável." Diz que ficou feliz por regressar a casa e abraçar os familiares.
PORMENORES
DEBILITADO
Percorreu dezenas de quilómetros a pé pela linha do mar. Estava debilitado e queimado pelo sol, mas consciente. Pediu ajuda no café O Farol, tendo o dono ligado à GNR de Murtosa. Foi ao centro de saúde e almoçou na St.ª Casa da Misericórdia.
REENCONTRO
Eram cerca das 14h00 de ontem quando a GNR telefonou à irmã de João a avisá-la do reaparecimento do dirigente político. Quando regressou a Valbom reuniu-se com o pai e as duas irmãs e explicou o que tinha acontecido. Recebeu vários telefonemas de familiares.
MAU EXEMPLO
João Tomás quer ultrapassar o que aconteceu e seguir em frente. Sabe que há muitos que condenam o seu acto e só espera que outros desempregados não sigam o seu exemplo. "E que isto não afecte a imagem da Juventude Popular", pediu.