A polícia espanhola identificou a vítima como sendo Vicente José Nunes Fangueiro, residente em Caxinas, Vila do Conde. O pescador está em Espanha há oito anos e era um dos tripulantes do barco ‘L’Espoir’, com bandeira francesa mas com base na Corunha, Galiza.
A notícia da morte deixou em estado de choque a família de Vicente Fangueiro, que apenas sabe que o pescador “caiu ao mar”. Ao que o CM apurou, na noite em que terá morrido, horas antes, Vicente Fangueiro tinha falado com a mulher ao telefone, não relatando qualquer problema.
“A minha irmã está destroçada e neste momento a dormir com a ajuda de sedativos. Fomos todos apanhados de surpresa”, disse ao CM a cunhada, Graça Maio. Ao saber da notícia da morte do marido, Alice Maio sentiu-se mal. Foi transportada ao Hospital de Vila do Conde, regressando a casa poucas horas depois.
Vicente José Nunes Fangueiro era pescador desde os 13 anos e há oito anos emigrou para Espanha à “procura de um salário melhor”. Deixa órfãos uma filha de 20 anos e um menino de 13.
“Ainda na semana passada cá esteve e andava feliz, sem qualquer problema”, relatou a cunhada que afiança também que “não se lhe conheciam problemas de saúde”.
A polícia confirmou que está a proceder a investigações para precisar as causas da morte do pescador – o corpo foi autopsiado ontem no IML de San Sebastian. A tripulação foi também interrogada pela Polícia Judicial. As autoridades adiantaram que a vítima tinha saído na noite de domingo com outros membros da tripulação, neste porto espanhol, junto à fronteira com França, não voltando a embarcar.
A tripulação do ‘L’Espoir’ era composta pelo capitão, de nacionalidade francesa, e oito marinheiros, sete portugueses e um espanhol.
MÁRTIRES DA FAINA DA PESCA
A última tragédia que enlutou as gentes de Caxinas, vila de 17 mil habitantes, dos quais 3000 são pescadores, ocorreu a 29 de Dezembro de 2006, quando o pesqueiro ‘Luz do Sameiro’ naufragou frente à praia da Légua, Alcobaça, depois de sair do porto da Nazaré.
Dos sete tripulantes, só um foi salvo e dos seis que morreram, quatro sofreram uma longa agonia de duas horas, agarrados ao barco batido pelas ondas à espera do socorro que tardou em chegar. Os seus gritos a pedir auxílio ouviam-se no areal, apenas a 50 metros.
Caxinas é considerada a maior comunidade piscatória do País, com 288 barcos registados, nas capitanias de Vila do Conde e da Póvoa do Varzim, sendo 113 de pesca local (artesanal) e 155 de pesca costeira.
As espécies mais pescadas são a sardinha, carapau, faneca e polvo. No entanto, ao contrário dos revendedores de pescado, os pescadores, além da vida dura da faina, vivem com dificuldades, agravadas pelo aumento dos combustíveis, dos encargos e a diminuição do volume das capturas.
PERFIL
Vicente José Nunes Fangueiro, de 44 anos, natural de Caxinas, em Vila do Conde, cedo começou nas lides do mar. Aos 13 anos já ia à faina em pequenas embarcações. Nunca conheceu outra vida e há cerca de oito anos decidiu rumar a Espanha à procura de melhores rendimentos. Deixa dois filhos órfãos, uma jovem de 20 anos e um rapaz com 13.
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