“Não é proibido, mas incomoda”, é a mensagem que o empresário Carlos Fernandes deixa aos clientes da casa de pasto ‘Nora do Zé da Curva’, garantindo que as pessoas têm aderido com simpatia à ideia de fazer um intervalo na azáfama do dia de trabalho e saborear com prazer a refeição.
“Isto parecia um desconcerto de sinfonias”, desaba Carlos Fernandes, lamentando que “algumas pessoas falam ao telemóvel e até se esquecem do sítio onde estão”, exprimindo-se “num tom demasiado alto”, apesar das conservas serem muitas vezes de foro privado ou de negócios.
Normalmente, as conversas são sobre negócios ou até entre amigos, a propósito de banalidades do dia-a-dia. Mas o que realmente motivou a corajosa decisão de ‘limpar’ os telemóveis da sala de um dos restaurantes mais emblemáticos da cidade-berço foi uma conversa demasiado íntima. “Ela abstraiu-se de tal maneira do local público onde estava, que toda a gente parou de comer para ouvir a conversa, que só posso dizer que era mesmo muito sensual”, adiantou Carlos Fernandes.
Os clientes têm agora a oportunidade de deixar o telemóvel à entrada, mas também há quem os leve para a mesa, mas desligados ou em silêncio – para casos de emergência ou família, mas sempre com a ressalva de falar em tom recatado. Caso contrário, vão falar para o exterior.
“Claro que se a conversa não for agradável, eu é que pago com as favas, porque a comida já nem sabe bem e até parece que o problema é do restaurante”, observa Carlos Fernandes, exemplificando – ainda que em tom de brincadeira – que “se um empresário recebe o telefonema de um bancário a dizer que a conta está a descoberto, lá se foi o caldo”.
OPINIÃO DE CASAS FAMOSAS
CLIENTES SÃO EDUCADOS
Mário Afonso, gerente do ‘Gambrinus’, em Lisboa, considera desnecessário impor regras sobre o uso de telemóveis a quem frequenta o aquele espaço. “Os nossos clientes são educados. Quando o telemóvel toca, levantam-se e atendem a chamada na área do bar”, afirma.
NEM PENSAR EM PROIBIR
“Não temos nada de proibir o cliente de usar um objecto que é dele”, afirma Gabriel Fialho, um dos proprietários do restaurante ‘Fialho’, em Évora, reconhecendo, ainda assim, que, quando um telemóvel toca, alguns clientes perguntam, em tom de censura, se o espaço onde estão é um escritório ou um restaurante.
UMA SUGESTÃO NO MENU
Manuel Moreira, do restaurante ‘Fortaleza do Guincho’ considera adequado que o menu apresente a sugestão: “O toque do telemóvel prejudica a qualidade da refeição.” O escanção observa, porém, que no restaurante onde trabalha “90 por cento das pessoas tem o cuidado de desligar os telemóveis ou silenciá-los”.
"ACHO BEM QUE SE PROÍBA" (Paula Bobone, especialista em etiqueta)
Correio da Manhã – Concorda com a proibição do uso do telemóvel em espaços públicos, nomeadamente restaurantes?
Paula Bobone – Tudo depende do uso que se faz dele. Os portugueses costumam falar muito alto, exibindo os assuntos privados. É uma má-criação. Se não sabem usar o telemóvel, então acho bem que se proíba.
– Quais as regras de educação para o uso do telemóvel?
– Se se está num local público, as pessoas devem pedir licença e retirar-se para atender. Outra regra importante é falar discretamente, baixo, e não aos gritos, como é costume.
– Este aspecto é mencionado nos livros de etiqueta?
– Os livros de etiqueta internacionais já fazem referência aos telemóveis. De resto, há muito tempo que os mais distintos clubes ingleses proíbem a utilização dos telemóveis. Também os portugueses só lá vão com a proibição.
PARLAMENTO ESPANHOL BLOQUEIA SINAL
Os parlamentares espanhóis, ao contrário dos colegas portugueses, não falam ao telemóvel quando estão no hemiciclo. De modo a evitar interferências com os equipamentos de som instalados na sala, o Congresso do país vizinho instalou recentemente um sistema inibidor de sinal, que impede os deputados de usar os aparelhos naquele espaço.
Embora polémica, por falta de enquadramento jurídico, a inibição de sinal tem sido adoptada em alguns países europeus.
Na França, onde foi produzida legislação específica sobre o assunto, as sociedades exploradoras de cinemas, teatros e salas de espectáculos foram autorizadas a bloquear os telemóveis dos espectadores durante as apresentações.
Também na Irlanda, 200 salas de cinema contam com sistemas de bloqueio da emissão de rede.
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