José Gabriel Saraiva da Cunha, médico infeciologista e professor do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, diz que o Covid-19 é mortal, mas que não é o maior desafio à Saúde dos portugueses que circula neste momento.
– O que se pode esperar do comportamento deste Covid-19? Poderá estar a sofrer mutações?
– Sabemos que todos os vírus têm a capacidade de sofrer mutações, mas isso não é necessariamente mau. Ou seja, as mutações ocorridas nos vírus não os tornam mais perigosos. Algumas mutações podem, pelo contrário, torná-los menos agressivos. O que sabemos do Covid-19 é pouco, e com este tempo tão curto de evolução ainda não é percetível se sofreu mutações ou não.
– Há quem fale de duas estirpes deste novo coronavírus a circular...
– Na sequenciação genética já efetuada conclui-se que há, de facto, duas linhagens do Covid-19 a circular. Mas ainda não sabemos se ambas as estirpes estão presentes em Portugal, ou apenas uma. Não sabemos se a estirpe que circula no Norte do País é a mesma que está presente no Sul. Isso vai saber-se em breve, assim que se concluir a sequenciação genética do vírus.
– Quanto tempo se estima que possa durar a epidemia deste Covid-19?
– Ninguém pode responder a essa pergunta. O que se está a fazer é a tentar isolar os infetados, a conter o avanço do vírus. As medidas propostas até este momento vão no sentido de atrasar o avanço da epidemia até ao verão, altura em que ela será mais fácil de combater, por causa do calor e do bom tempo.
– Fala-se já de uma vacina, que poderia estar pronta no final deste ano. É uma meta possível de atingir?
– É possível, sim, pensar numa vacina para o novo coronavírus até ao final deste ano. A produção de vacinas depende dos ensaios clínicos que se possam realizar, que são sempre processos complicados e demorados. Sobretudo quando chega a parte da aprovação e da comercialização. No entanto, e dada a premência que assumiu este assunto e a necessidade de controlar o Covid-19 o quanto antes, é natural que os procedimentos se apressem e que as autorizações apareçam mais cedo. Atenção que não podemos esperar uma vacina dentro de 15 dias ou um mês... Mas até ao final do ano, penso que seja exequível, sim.
– Este é um vírus particularmente mortal?
– Depende. Comparado com o quê? Quando comparamos o Covid-19 com a gripe comum, que temos todos os anos, sim, é um vírus mais mortal. Mas é muito menos mortal do que a pneumonia bacteriana, por exemplo.
– O que se pode fazer, como medida profilática, para evitar o contágio?
– Tudo aquilo que a Direção-Geral da Saúde tem recomendado. Espirrar para o cotovelo, deitar fora os lenços descartáveis usados, levar as mãos frequentemente, manter uma certa distância social. Tudo isso está correto e deve ser observado.
CASO
Carl Goldman, americano de 66 anos
"Tive febre e bebi muitos líquidos"
Carl Goldman, de 66 anos, é um dos turistas americanos que ficou infetado com o Covid-19 no cruzeiro ‘Diamond Princess’, ao largo do Japão. No mesmo dia em que as autoridades americanas o levaram para o Nebrasca, para a quarentena, acordou a meio da noite "a escaldar de febre" e foi imediatamente colocado em isolamento total.