Em Lisboa há uma rádio muito especial: a Rádio Acreditar é feita, essencialmente, por adultos com trissomia 21. Estes locutores falam de telenovelas, desporto, gostos musicais e muito mais, mas apenas para uma emissão interna do Centro de Atividades Ocupacionais da Ajuda (CAO), da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental (APPACDM). Mais do que uma terapêutica ocupacional, as emissões às terças e quintas-feiras são dos melhores momentos na vida destas pessoas.
"Foi um sonho que conseguimos concretizar graças a um donativo que tivemos. Através da rádio desenvolvemos competências e conseguimos fazer imensas coisas, talvez seja dos momentos mais divertidos neste Centro. É um grande impulsionador para estes jovens perderem inibições. Nas emissões pedem-se namoros, dão-se recados, falam-se de sentimentos, de dietas, é um mundo", afirma ao Correio da Manhã Filomena Abraços, da direção técnica da CAO.
Mariana é a locutora principal do programa de comentários sobre as telenovelas. A jovem de 26 anos, que frequenta o centro há sete, não esconde a felicidade e o à vontade em frente ao microfone que vai emitir as suas palavras para todo o CAO. Tem os tópicos principais escritos numa folha, mas são os comentários espontâneos que fazem os colegas soltar gargalhadas.
"É uma das coisas que mais adoro, pela experiência, por evoluir e aprender mais, e também para dar emoção a quem me ouve", revela Mariana.
A importância da rádio para estes locutores não é só a nível lúdico. As emissões têm ajudado também a melhorar algumas competências.
"A Mariana tinha dificuldade na pronúncia das palavras e na comunicação oral e de facto desde que frequenta a rádio nota-se uma melhoria na dicção e o próprio discurso está mais claro", disse Ana Maria Dias, a mãe de Mariana ao CM.