As doenças reumáticas, que influenciam "tudo aquilo que nos faz mexer", ou seja, o aparelho locomotor, são mais frequentes nas mulheres, sobretudo a partir dos 65 anos de idade. A osteoartrose é a mais comum, seguindo-se as lombalgias e raquialgias.
As queixas musculoesqueléticas não são sinónimo de sofrimento obrigatório nem de ausência de tratamento eficaz. Em alguns casos, um diagnóstico precoce evita o estado irreversível da doença. Contudo, o número de reumatologistas em Portugal é insuficiente. "Existem 170 reumatologistas e internos em formação, dos quais 140 em hospitais públicos - a necessidade é de 160 reumatologistas. A sul do Tejo só existem dois serviços de Reumatologia, não há nenhum em qualquer dos hospitais alentejanos. Uma situação que urge resolver", lamenta ao CM a presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR), Viviana Tavares.
Só na Europa estima-se que 103 milhões de pessoas sofram de doenças e alterações do sistema musculoesquelético, número que continua a crescer, dado o aumento da população e da esperança média de vida. As doenças reumáticas são a primeira causa de baixa laboral e o principal motivo de incapacidade temporária ou definitiva dos portugueses. "O impacto vai depender do tipo de doença e do doente, mas os problemas reumáticos são uma das principais causas de consultas de medicina geral, de baixas e de reformas antecipadas. Existe a noção de que as doenças reumáticas não matam mas moem", considera Viviana Tavares.
"POR DETRÁS DE UMA DOR ESTÁ UMA CAUSA": Augusto Faustino, Pres. Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas
Correio da Manhã - A dor é o principal sintoma da doença reumática?
Augusto Faustino - Sim, por detrás de uma dor está uma causa e é necessário permitir, através de terapêutica adequada, que a causa não evolua. Daí a importância de um diagnóstico precoce.
- Quais são os fatores de risco das doenças reumáticas?
- O fator genético é atenuado, pelo que a prevenção primária é vital. Ao invés de fatores de risco, prefiro falar em conselhos, como evitar o excesso de peso e de esforço físico, ter alimentação equilibrada e exposição solar, para ativação da vitamina D.
- A reumatologia é devidamente reconhecida em Portugal?
- Há um problema de ignorância ao nível do impacto na vida dos pacientes. Um doente reumático, se tratado corretamente, pode voltar à vida profissional e evitar custos de baixas e internamentos ao Estado. Todavia, o panorama nacional é melhor, comparando com o cenário de há 10 anos.
"ERA TORTURANTE, NÃO AGUENTAVA"
Joana Botelho, de 37 anos, residente em Mem-Martins, Sintra, chegava ao inverno com as mãos inchadas e dores fortes, que até a impediam de abrir uma porta. O diagnóstico de espondilite anquilosante, em 2010, não tardou. "Foi um pânico. Devido à minha profissão [contabilista] passo muito tempo sentada e não aguentava com as dores na coluna. Era torturante e não arranjava uma posição para estar. Não conseguia conduzir ou ver televisão sentada. A doença teve um forte impacto na minha qualidade de vida", conta ao CM Joana Botelho.
A espondilite anquilosante não teve só impacto físico na doente, mas também psicológico. "Foi muito difícil. Valeu-me o apoio familiar", refere Joana, que lamenta o facto de vir a não poder ser mãe: "talvez não possa engravidar e isso preocupa-me. Tento controlar a doença e não deixar que ela me controle a mim. É um desafio diário".
A doente toma medicação, faz fisioterapia e uma massagem terapêutica mensal. "Os custos mensais são de cerca de 150 euros", revela.
PERFIL
Joana Botelho tem 37 anos e sofre de espondilite anquilosante há dois anos. A doente tenta lidar com as dores, sobretudo na coluna, através de medicamentos.