Vinte vítimas prontas para testemunhar contra padre abusador
Pelas redes sociais, duas dezenas de mulheres manifestaram intenção de contar tudo.
Secundino Cunha, Paulo Jorge Duarte e Rogério Chambel
1 de Outubro de 2022 às 01:30
Chegava lá e ajoelhava-me. Depois, ficava nos joelhos dele. O padre perguntava se eu ia para o monte com os rapazes, se eles me tocavam, davam beijos e me tiravam as cuecas...”, conta Flora Simões. A insistência do padre era tanta que Flora acabava por dizer que sim. Helena Pimenta passou pela mesma situação. “Eu era muito jovenzinha... Ia confessar-me e o padre perguntava se os rapazes me tiravam as cuequinhas”, contou esta sexta-feira ao CM.
Flora e Helena, agora com 55 e 50 anos, respetivamente, não esquecem o padre Fernando Sousa e Silva e as idas ao confessionário na igreja de Joane, Vila Nova de Famalicão, quando eram menores. Já passaram mais de 40 anos, mas mantêm vivas as memórias dos abusos de que foram vítimas.
A história dos alegados abusos sexuais do cónego Fernando Sousa e Silva levou a que cerca de duas dezenas de mulheres da vila de Joane se tenham, para já através das redes sociais, prontificado a “contar tudo” às autoridades civis e às eclesiásticas. Atualmente com 90 anos, o cónego, que foi juiz do Tribunal Eclesiástico de Braga , é acusado por várias mulheres, todas com idades entre os 50 e os 60 anos, de comportamentos abusivos, sobretudo quando, em crianças da catequese, as confessava.
À Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja, chegaram depoimentos de três mulheres que dão conta de abusos no confessionário. Algumas delas alegam que os factos chegaram, no início deste século, ao conhecimento do então arcebispo, D. Jorge Ortiga, e que este nada fez. O prelado remete o assunto para a Comissão Diocesana de Proteção de Menores, mas assegura que a acusação de encobrimento é “manifestamente injusta”.
PORMENORES
Sacerdote apalpava
Três mulheres alegam que, quando tinham entre 7 e 10 anos, o sacerdote as apalpava e lhes colocava perguntas de cariz sexual.
Entre 1999 e 2002
Vítimas dizem que as denúncias chegaram ao conhecimento de D. Jorge Ortiga, então arcebispo de Braga, entre 1999 e 2002.
Caso na Justiça
Este caso do cónego Fernando Silva, de Joane, é um dos que a Comissão Independente comunicou ao Ministério Público.
D. Ximenes Belo em parte incerta
Na quarta-feira de manhã, quando se soube das acusações de abusos sexuais contra menores, D. Ximenes Belo saiu de imediato da casa dos Salesianos das Oficinas de São José, em Lisboa, onde residia. À sua espera, um carro da embaixada timorense em Portugal, segunda relata o jornal digital Sete Margens, com base em informação de fonte eclesiástica. O antigo bispo de Díli encontra-se em parte incerta.
A Província Portuguesa da Sociedade Salesiana recusa adiantar mais pormenores, remetendo para o comunicado entretanto emitido, onde informa que D. Ximenes foi seu hóspede, mas “deixou de estar dependente da Congregação”. No entanto, no Anuário do Vaticano de 2021, segundo a Associated Press, Ximenes Belo aparece com as iniciais da congregação de origem à frente do seu nome. Entretanto, a Conferência Episcopal Timorense já se pronunciou e disse que irá cooperar com um eventual processo judicial contra D. Ximenes no caso das acusações de abuso sexual de menores.
Menores em casa do bispo
Paulo e Roberto, os timorenses que denunciaram os abusos, dizem que o antigo bispo enviava pessoas de sua confiança, num carro, para levar menores para a sua residência.
Resignação aceite em tempo recorde
D. Ximenes resignou ao cargo de bispo de Díli em 2002. Já havia denúncia de abusos. O pedido foi deferido pelo Vaticano em 24 horas, prática pouco habitual.
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